quarta-feira, 3 de outubro de 2012

SST – UMA ÁREA NÃO APENAS UM ESPAÇO

A prevenção brasileira ainda caminha por dias muito difíceis. Muitos são os problemas estruturais de nossa área de trabalho e poucos são os que de fato atuam ou trabalham da direção de corrigi-los. Falta ao profissional prevencionista brasileira visão estratégica – tanto do ponto de vista social como do profissional.

Poucos percebem que na verdade que a grande maioria dos problemas que envolvem a área fazem parte de uma única cadeia e que tentar discutir isoladamente as partes é chover no molhado, ver os anos passando e as cenas e fatos se repetindo. Com um pouco de atenção e análise talvez seja possível entender melhor esta cadeia e atuar de forma organizada e consistente sobre as verdadeiras causas. Discutir situações pontuais – sem olhar o todo – é perder mais tempo.

A situação da prevenção me lembra de certa forma o comercial de um famoso biscoito – onde a dualidade de conceitos no deixa eternamente em duvida. A maioria dos debates que assisto – me lembram cães correndo atrás do próprio rabo – onde quase não se percebe que ao atingir o objetivo irá lesionar-se. Se desejamos algo do futuro é bom então que repensemos o mais breve possível a nossa forma de olhar a prevenção pois sem isso não iremos ao futuro.

Uma boa análise a ser feita é tentar entender onde as questões de SST deveriam estar inseridas no contexto social. Muitos de nós que atuamos nesta área não percebemos mais que estamos falando não apenas de uma planejamento a mais no contexto empresarial – mas falamos de vida e dignidade e esta natureza mista de nossa área – que vive no limiar das coisas do dinheiro e das coisas da vida – jamais poderia ser perdida de vista. Então há de se entender que boa parte dos problemas passa por esta forma de visão – digamos assim – pelo menos equivocada da natureza e finalidade de SST. Interessante ressaltar o quanto isso tem haver com a imaturidade geral da sociedade brasileira e assim analisarmos o quanto entender o contexto geral é uma necessidade dos profissional de qualquer área – especialmente da nossa. Fica claro que em muitos casos a questão da ausência de respeito a SST – nada mais é do que mais um dos reflexos do total despreparo social que temos para respeitar a vida no contexto geral da sociedade. Na minha forma de ver não uma questão única e dirigida as questões de violência no trabalho – mas um problema muito maior no qual estamos inseridos. Em um país onde acaba sendo normal matar pelo mal uso de veículos. Matar pela certeza impunidade – acaba sendo implícito que matar no trabalho também é licito.

Então muito antes de simplesmente aplicarmos técnicas ou importarmos modelos – há necessidade de trabalharmos duro na revisão de nossos próprios entendimentos e mais ainda na compreensão do grau de maturidade social dos atores envolvidos no processo de definição e implementação de políticas de SST. Se não fizemos isso – o vácuo entre o comportamental e o entendimento e as práticas – será sempre fator determinante para que as coisas não funcionem. Como fazer isso – digamos –e tarefa para especialistas em equipes multidisciplinares – questão que estão muito além da simplicidade com que ora encaramos os fatos e da omissão das autoridades que precisam atentar para a gravidade da situação e através dos meios que já definiu – Comitês – possibilitar uma revisão mais ampla dos conceitos. De tudo – apenas a certeza de que não vai ser com a visão de apenas um ou dois lados que encontraremos um caminho: saúde não é negócio, saúde não é política e menos ainda moeda de troca.

Um outro ponto de fundamental relevância diz respeito ao posicionamento e espaço da áreas de SST dentro das empresas. Isso merece análise rigorosamente cuidadosa – até porque em algumas empresas chega a ser contraria as finalidades e preceitos dos famosos Sistemas de Gestão. Interessante que no Sistema da Qualidade é clara e obvia a necessidade de se ter uma figura “forte” para implantação e manutenção do Sistema – mas os chamados Sistemas de SST tem sido diferentes. Isso nos leva a crer – não generalizando – que muda-se apenas a forma de tramitar papeis – mas forma de acontecer segue sendo a mesma. De forma geral – as estruturas de SST estão dentro das empresas ancoradas em áreas onde pouco ou nada podem decidir e disputando verbas dentro de orçamentos voltados a questões pelo menos menores do que o direito a ida e saúde. Muito interessante analisarmos isso – porque todos os dias ouvimos histórias de colegas abismados quando sua gerencia decidiu que era mais importante trocar o carpete da sala do diretor do que instalar ventilação em áreas produtivas. Obvio, que as empresas tem direito e autonomia para decidirem como gastam seu dinheiro – mais evidente que as empresas tem o DEVER – e este vem antes do direito – de preservar a saúde dos cidadãos que emprega como mão de obra. Então aqui confundem-se o licito empresarial com a obrigação e certamente todos sabem a ordem dos fatores. Situações assim são mais do que comuns – sem que se faça qualquer averiguação mais profunda. Tornou-se um hábito – até porque adoecer e matar trabalhadores é algo que não gera muitos problemas. Interessante num pais que se cria tantas leis – a cada minuto por cada coisa – que ninguém tenha ainda atentado para a necessidade de definir o quanto uma empresa deve destinar pelo menos a questões de SST. Assim vemos por ai empresas imensas com orçamentos ridículos para nossa área – quando o tem. Ora é conhecido e possivelmente estimável estudar o quanto é necessário para fazer uma prevenção mais real. Em outras oportunidades já defendi e continuo defendendo que nosso governo deveria – com critérios bem definidos e transparentes – determinar que as despesas que SST sejam por alguns anos dedutíveis no Imposto de Renda – visto que trata-se de assunto de interesse geral.

Tudo que expomos acima carece no entanto de agentes sociais que exponham a realidade, apresentem os anseios e trabalhe junto a sociedade para que se tornem realidade. Nisso – somos omissos – pois entendemos prevenção de forma diminuta e não conseguimos entender que os esforços isolados pouco contribuem para que a realidade mude. Agimos assim por não ter visão ampla da situação – por não entender a profundidade, extensão e gravidade do assunto. O problema da prevenção não vai ser resolvido do debate entre os profissionais do SESMT: nossa situação não vai mudar com mais este ou aquele papel – o problema é maior e mais complexo.

Espero que os profissionais que hoje chegam ao mercado em conjunto com o que ai estão e tem visão lúcida e ampla consigam atuar de forma mais ampla e em direção as estruturas equivocadas. Assim teremos futuro – e muitos trabalhadores também.

Nenhum comentário:

Postar um comentário